sexta-feira, 17 de julho de 2015

São Félix do Xingu: agricultores lideram troca de experiências em oficinas de manejo de cacau

Andressa Neves¹, Marcos Froes Nachtergaele², Eduardo Trevisan Gonçalves³

O Imaflora vem apoiando agricultores e organizações locais no desenvolvimento de uma produção mais sustentável em São Félix do Xingu, desde 2010. De lá para cá, os principais esforços foram para a criação de referências práticas e inovadoras em técnicas de manejo e beneficiamento de cacau, ao mesmo tempo em que articulava parte da indústria na busca de um mercado diferenciado, com a intenção de transformar a cadeia produtiva. No escopo do trabalho na região também está a adequação ambiental ao Código Florestal e o apoio ao planejamento do uso da terra.
           
Nesse processo, viu-se a necessidade de criar espaços de formação para os agricultores em técnicas de manejo, colheita e beneficiamento de cacau de qualidade. Após oficinas, cursos e intercâmbios, foram produzidas e comercializadas, em 2014 e 2015, mais de 200 toneladas de cacau de boa qualidade, sendo sete delas consideradas cacau fino, as quais receberam um valor diferenciado.

Foto: Agricultor Técnico Raimundo facilitando a oficina; autor, Rafael Salazar.







Tendo em vista a necessidade criar meios diferenciados para fortalecer a socialização de técnicas agroecológicas para cultura do cacau, uma nova estratégia de formação foi utilizada, tendo o agricultor como protagonista do conhecimento. Para discussão de práticas agrícolas entre os agricultores e valorizar e construir em conjunto o conhecimento adquirido localmente, as oficinas foram conduzidas não por técnicos agrícolas especialistas, mas sim por três agricultores familiares, que estão no projeto desde o início e que se destacaram.

Vimos neste momento a grande oportunidade de incentivar a troca de ideias e experiências entre os agricultores da na mesma região e que, portanto, lidam com as mesmas condições climáticas, políticas e sociais. Desta maneira, no período de 4 a 8 de maio de 2015 esta metodologia foi utilizada em 3 oficinas de beneficiamento de cacau. Foram abordados temas como colheita e separação dos frutos, fermentação e estrutura ideal dos cochos.


Foto: Equipe de parceiros juntos com os agricultores técnicos* que conduziram a oficina. Da esquerda para direita: Ilson, Raimundo*, Marcos, Casio, Pedro*, Andressa e Natal*. Autor: Rafael Salazar.


Ao final do ciclo, as maiores conquistas ressaltadas foram o protagonismo dos agricultores familiares na condução da oficina e a construção coletiva do conhecimento através da troca de saberes. Além disso, foi desmistificada a ideia de que a produção de cacau de qualidade requer práticas e técnicas muito complexas, que exigem elevado grau de insumos e tempo. Também foi possível desvendar o passo a passo das etapas do beneficiamento.

Os três agricultores facilitadores, Pedrinho, Natal e Raimundo mostraram total capacidade na transmissão do que aprenderam nos cursos do Imaflora e usaram as novas informações em suas práticas no campo. E a soma dos novos aprendizados com as experiências que já possuíam foi um belo exemplo de diálogo e valorização do conhecimento local entre agricultores e agricultoras, mostrando que é possível fazer diferente.

Para o Imaflora esta experiência foi um marco no que se refere a espaços de formação e construção do conhecimento no meio rural, entendendo que a metodologia potencializa a difusão dos conhecimentos e inovação, colocando o agricultor familiar como centralizador do conhecimento e o técnico como um facilitador do diálogo entre os agricultores.

Nesse segundo semestre, outras atividades estão previstas, como a continuidade das oficinas sobre o manejo de cacau, implantação de áreas de Sistemas Agroflorestais em unidades familiares e a realização de cursos sobre sistemas silvo pastoris. A proposta é continuar com esta metodologia tendo os agricultores como protagonistas.


Foto: Arara Canindé simpatizante do projeto Floresta de Valor; Autor: Rafael Salazar.


O projeto em São Felix do Xingu é realizado pelo Imaflora em parceria com a CAMPPAX (Cooperativa Alternativa Mista dos Pequenos Produtores do Alto Xingu) e ADAFAX (Associação para o Desenvolvimento da Agricultura Familiar do Alto Xingu) e faz parte da iniciativa Florestas de Valor [3].

¹ Gestora Ambiental. Equipe de Florestas de Valor, Imaflora.
² Engenheiro Florestal, coordenador de projetos, Imaflora.
³ Engenheiro Agronomo, secretario adjunto e gerente de projetos, Imaflora.



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